terça-feira, 25 de dezembro de 2012


O alado de Elkurar

Próximo as montanhas de Elkurar, decidi me sentar a beira de um penhasco para observar um pouco da imensidão e as estrelas. A brisa da noite como de costume, arrastava consigo lembranças dos tempos antigos. Abaixo, nas planícies  podia ver rebanhos de Ondrondes dormindo, uma especie de búfalo gigante. Mais a direita, ninhos de Garus repleto de ovos, suponho, afinal era temporada de reprodução. Escondida em um buraco, uma raposa cinzenta esperava o momento certo para furtar um dos ovos mas foi descoberta e por pouco não ficou sem uma das patas depois de uma bicada furiosa do Garus furioso. Ela se ajeitou novamente em sua toca e ficou lambendo a ferida, arriscou sair mas a dor a impediu. Talvez morreria de fome em poucos dias. Tudo parecia normal e rotineiro para uma noite estrelada.
Senti uma coisa se mexer do meu lado com a força da brisa e logo percebi ser uma margarida da noite. Uma flor magnifica e muito rara que enquanto permanecia plantada a terra brilhava com intensidade e esplendor a ponto de hipnotizar  mas se arrancada da terra suas pétalas se dispersavam pelo ar soltando um dos cheiros mais incríveis e indescritível de Elkurar.
Decidi primeiramente observa la por alguns minutos e então a retirei da terra. Senti aquele aroma estonteante e então me lembrei da minha terra natal, Entera, lar dos alados. Hoje devastada pela corrupção da nova era. Lembrei de quando era apenas um jovem e me divertia caçando pequenas criaturas com meus amigos. Bons tempos...
Poderia ficar ali naquele penhasco para sempre, mas a paz não é algo eterno como muitos dizem.
- Hey monstro o que faz ai? Gritou uma voz atras de mim. Não respondi, o que interessava a ele o que eu fazia?
- Responda monstro! Arrancaram sua lingua? Continuou a voz.
A minha margarida da noite ainda exalava aquele cheiro maravilhoso, mas depois que aquela voz interrompeu meu momento de paz. Senti um cheiro terrível que dominou todo o ambiente. Era cheiro de ambição, ódio, desprezo, morte e outros males terríveis  Levantei e encarei o rosto daqueles seres. Eram cinco homens, todos armados com espadas e armadura montados em seus cavalos. Percebi mais atras dois filhotes humanos amarrado pelas mãos atadas ao cavalo de um deles. Uma fêmea e um macho de aproximadamente 13 primaveras cada um.
Senti pena por alguns instantes mas eu sabia que aqueles filhotes eram apenas uma semente podre nesse mundo. Uma semente que quando germinava insistia em conquistar, conquistar, matar e matar. Só me perguntava porque eles agrediam uns aos outros. Não tinha espaço suficiente no mundo para todos eles? E se eram tão iguais em termos de maldade, porque se matavam?
- Não vai falar aberração? Vamos pessoal, esses chifres e essas asas devem valer uma fortuna.
Os meus chifres e asas valiam uma fortuna? Em minha terra quando morríamos, dependendo dos nossos atos de heroísmo ou fidelidade. Nossos chifres eram juntados ao grande trono do rei. Isso era uma honra. Mas aqueles homens, embora não soubessem deste fato, venderiam os meus chifres de qualquer jeito. E com o dinheiro gastariam com prostitutas e bebidas. E qual valor meus chifres teriam senão alguns momentos de prazer para gente que jamais matou um colosso ou um monstro de Anebas.
Meu nome é Askaj, principe dos alados. Ultimo da minha especie. Será que aqueles homens levariam em conta o meu titulo? Com certeza não.
O seu líder avançou cavalgando em minha direção balançando sua espada ferozmente com seu peito estufado. Dando pequenas olhadelas aos seus amigos que riam e planejavam o que fazer com os meus chifres. Ainda tive tempo para encarar os dois filhotes que olhavam aterrorizados. Não apostaria uma lasca de ouro que ja viram essa cena antes de serem arrancados de sua mãe cruelmente por um desses humanos.
O cavaleiro apertou as esporas no cavalo que acelerou. Levantou a espada em direção a minha cabeça e gritava:
- Não vai se mexer monstro? Será mais facil! O homem ria com orgulho junto com seus companheiros.
Cada vez mais proximo só podia sentir pena daquela criatura. Carregada de tanto odio e ganancia fazendo algo que premeditando uma felcidade que jamais terá. Conheci feiticeiros humanos inteligentíssimos que faziam jus a inteligencia humana. Mas esses homens que conheci hoje era pior que ogros, senão pior que trasgos.
Então ele atacou. Enfim atacou. Mas não esperava que eu apenas me agachasse e abrisse minha asa. O cavalo se assustou e tropeçou, caindo do penhasco junto com o cavaleiro. Por sorte o homem se agarrou a beira do abismo mas o cavalo pode se apenas ouvir o som do seu corpo mole batendo no chão alguns segundos depois.
- O que vocês estão fazendo ai? ME AJUDEM! ME AJUDEM!
Apenas observei aquela situação. Nenhum de seus companheiros moveu uma palha para ajuda lo.
- Vocês estão esperando o que? Juan, eu te ajudei! EU TE AJUDEI, você me deve!
Um dos quatros cavaleiros, o unico que não trajava elmo, pareceu desconcertado e pensativo mas continuava a não se mexer até que um deles abriu a boca.
- E então? vamos ou não pegar esses chifres? Disse um que tinha uma barba branca amarelada perto da boca e uma barriga avantajada, com seu machado em suas costas.
- OQUE? ME AJUDEM MALDITOS!
O homem parecia escorregar cada vez mais, pouco a pouco foi caindo. Aquela não seria uma morte honrosa para mim. Achei que para poupar mais mortes alem do cavalo eu deveria salva lo, talvez ele percebesse que eu não sou apenas um possuidor de chifres raros e me deixasse em paz.
Puxei o homem e o coloquei em segurança facilmente. Ele respirou fundo e me encarou por alguns segundos. Dei um sorriso de leve para que ele compreendesse que eu não era inimigo, mas no mesmo instante ele pegou uma adaga em sua cintura e me atacou.
Eu me pergunto. Fui burro o bastante para confiar em um humano? Não tão burro pois uma marca dos Alados é nossa capacidade de planejar um combate. Eu sabia que ele faria aquilo e deixei que ele golpeasse o meu chifre. A carga de magia passou pela adaga e foi direto em sua mão. Não diria que foi um segundo, foi instantâneo. O homem fulminou em chamas.
Os outros se assustaram e bateram em retirada rapidamente. Observei eles sumirem na floresta. Pobres infelizes exercendo sua burrice como sempre. Morreriam em poucos dias perdidos naquele mar de criaturas, venenos e insetos.
Observei no chão amarradas ao cavalo os dois filhotes humanos. Estavam apavorados. Avancei em sua direção, tentavam puxar o cavalo para fugirem mas era demasiado pesado para eles. Cheguei mais perto e desatei o nó. Eles me observaram um pouco e desataram a correr para dentro da floresta. Mais dois para adubar a plantas carnívoras gigantes.
Voltei a sentar na beira do penhasco. Um pouco de ação para agitar esses ossos velhos não faria mal. Depois de algumas horas acordei do meu cochilo. Ja era de manhã. O sol nascia em sua rotina diária. Olhei para os Garus que se levantavam e iam atras de seu café da manhã e próximo a toca da raposa avistei os dois filhotes humanos carregando a no colo e dando um pouco de ovo que furtaram dos Garus desatento. Cuidavam dela como se fosse um  mascote.
Percebi então que o homem é bom por natureza, mas depois de adulto deixa sua fome pela felicidade e ambições dominarem sua origem. Talvez um dia eu me encontraria novamente com aquelas crianças, talvez um dia.

#JB

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